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Desafios à promoção da saúde mental no Brasil

 Da patologização do machismo. Parem de banalizar as doenças ...

 

Tema da semana: Desafios à promoção do direito à saúde mental no Brasil

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. 


O maior desafio para as políticas de saúde mental no Brasil hoje é o enfrentamento do uso do crack. Com a desospitalização promovida a partir dos princípios da Reforma psiquiátrica e o consumo crescente da droga em todas as esferas sociais, o SUS tem atuado de forma interdisciplinar, objetivando construir uma estratégia eficaz de enfrentamento do problema, já considerado uma epidemia por diversas instituições.

Grécia Antiga e os seres especiais

Na cultura grega, a loucura era considerada um sinal de ligação direta entre os homens e os deuses. Os loucos eram capazes de profetizar o futuro e conheciam todos os mistérios da vida. Eram especiais e admirados. Até que Hipócrates, no século 4 a.C. propõe que os transtornos mentais seriam relacionados ao mau funcionamento do organismo: a bílis é que causaria a mania ou a melancolia.


Idade Média e os endemoniados

As pessoas com transtornos mentais eram exiladas, enviadas para outras cidades ou
para a morte certa.

Renascimento e a loucura como algo a ser explicado

O homem se torna o centro de tudo e desafia as doutrinas religiosas. O racionalismo inaugurado por Descartes (1596-1650), com o seu “penso, logo existo”, coloca o homem como ser racional em oposição ao doente mental, irracional. Os transtornos mentais passam a ser um problema da ciência e por ela incluídos e explicados. As pessoas, porém, ainda eram apartadas do convívio social, mas agora enviadas para os “hospitais gerais”, antigos leprosários, para onde também iam todos os indesejados e que não seguissem as normas da razão.


·         William Shakespeare (1564-1616) escreve sobre três célebres “loucos”, que marcaram a sua obra e o imaginário humano: Hamlet, um obsessivo que flerta com a ideia do suicídio; Macbeth, que alucina tomado pela culpa; e Falstaff, o alcoólico intenso e descontrolado.

·         Miguel de Cervantes, com seu Dom Quixote (1600), propõe um brilhante diálogo entre a razão e a loucura.


As pessoas com transtornos mentais eram exiladas, enviadas para outras cidades ou
para a morte certa.

 

A Era Industrial e a psiquiatria

A vida nos grandes centros urbanos empurra os transtornos mentais para a exclusão e para a rejeição, nos manicômios. Mas é também nos séculos 19 e 20 que a psiquiatria se desenvolve. Com Philippe Pinel (1745-1826), nascem os fundamentos do que viria a ser a psiquiatria: os chamados alienados seriam doentes com distúrbios no sistema nervoso.


É no século 20 que a psiquiatria se estabelece como especialidade médica, propondo tratamento e cura para os transtornos mentais. Os primeiros tratamentos com fármacos passam a ser usados nos anos 1930, evoluindo nos anos 1950 com os antipsicóticos e antidepressivos.

 

·         No Brasil, Machado de Assis publica, em 1882, o conto O alienista. Nele, Simão Bacamarte, o alienista, fala de sua iniciativa: “Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experiência científica. Digo experiência, porque não me atrevo a assegurar desde já a minha ideia; nem a ciência é outra coisa, Sr. Soares, senão uma investigação constante. Trata-se, pois, de uma experiência, mas uma experiência que vai mudar a face da Terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.”

 

Dados

• A OMS (Organização Mundial da Saúde) considerou a depressão como o "mal do século XXI"

E sobre este tema, podemos observar pontos alarmantes (Dados da OMS e do Ministério da Saúde):

- O Brasil tem a maior taxa de pessoas com depressão na América Latina. São cerca de 12 milhões de brasileiros (5,8% da população) sofrendo de depressão. Estima-se que entre 20% e 25% da população brasileira teve, tem ou terá a doença.

- No mundo, o Brasil é o país com o maior número de pessoas que sofrem com ansiedade, 9,3% da população - incluindo ataque de pânico, fobia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e estresse pós-traumático.

- No País, o suicídio é a terceira maior causa de morte externa, atrás somente de acidentes e agressões. A taxa de suicídio a cada 100 mil habitantes no Brasil cresceu 7% de 2010 a 2016, na contramão do restante do mundo, onde a taxa caiu 9,8%. Em 2018, foram 37 casos por dia.

• Devem-se analisar os motivos que levaram a esses dados tão preocupantes na sociedade, e pode-se inferir que o estilo de vida da sociedade contemporânea tem uma parcela de culpa neles. O uso excessivo da tecnologia, o individualismo, a busca pela felicidade, incertezas, instabilidades, discursos meritocráticos, a competição econômica, cobranças por sucesso, padrões de beleza, consumismo, trabalho precários, entre outros, levam muitas pessoas à depressão e ansiedade. Essas são algumas das características da chamada Modernidade Líquida, conceito criado pelo sociólogo Zygmunt Bauman para definir as relações sociais na pós-modernidade - na qual se tem mais liberdades, mudanças constantes e imprevisibilidade. No entanto, Bauman afirma que toda essa liberdade não garante, automaticamente, felicidade e satisfação. Pois as consequências das ações recaem diretamente sobre os indivíduos e toda essa pressão e instabilidade colabora para a sensação de mal-estar, solidão e fracasso crescente nas sociedades.

 

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• Deve-se entender, ainda, que ter saúde não significa somente ausência de doenças. Para ter saúde, é preciso se ter um completo bem-estar físico, mental e social.

• Pode-se citar, ainda, que muitas pessoas não têm acesso ao tratamento necessário quando estão doentes, O SUS não consegue atender a todos.

Ÿ Ademais, foi criada uma imagem de que o brasileiro tem que estar sempre feliz, mesmo diante de todas as adversidades, o que pode levar ao aumento exacerbado desses problemas, pode gerar a pressão em cima dos doentes em não poder mostrar tristeza e, com isso, se isolar ainda mais, ou também gerar a banalização desses problemas psicológicos, já que a maioria da sociedade considera tais "besteira" ou que as pessoas não têm motivo para estar daquele jeito, ou que até mesmo não acreditam em Deus.

• Entre as doenças mentais mais conhecidas, estão: ansiedade, depressão, esquizofrenia, transtornos alimentares, estresse pós-traumático, transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), autismo, demência e TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade).

A Constituição Federal de 1988 garante a saúde como um direito social, e é possível concluir que essa garantia é, lamentavelmente, muito deturpada.


Agora, pensando pelo lado histórico:

Desde a Idade Média, a loucura - ou qualquer manifestação de transtornos mentais - era encarada como uma heresia pela Igreja Católica. Na Idade Moderna, com o Renascimento e exaltação da razão humana, a figura do louco se torna uma ameaça. Os considerados loucos eram expulsos das cidades, colocados em navios - o nau dos loucos -, lançados ao mar ou despejados em outros lugares. Vistos como uma ameaça à ordem da sociedade, os loucos, assim como outras pessoas que não se encaixavam no padrão social, eram excluídos da sociedade e, muitas vezes, presos.

• O maior exemplo da negligência e péssimas condições dos manicômios é o Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais. Lá, milhares de pessoas marginalizadas de todo o Brasil chegavam aos chamados “trem de doido” - cerca de 70% delas não apresentavam nenhum problema psiquiátrico. Na colônia, os pacientes viviam em condições subumanas, eram forçados a trabalhar e submetidos a diversas formas de violações, violência e tortura, como camisa de força, eletrochoque e lobotomia, que muitas vezes os levavam à morte. Estima-se que entre 1960 e 1970, 60 mil pessoas tenham morrido no Hospital Colônia.

•No século XX, o número de hospitais psiquiátricos aumentou e suas condições subumanas pioraram. Foi quando começaram a surgir os primeiros movimentos das chamadas Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial pelos direitos das pessoas com doenças mentais, exigindo melhores condições e tratamentos alternativos e humanizados.

• No Brasil, a Luta Antimanicomial se destacou em 1970 e a imprensa começou a denunciar a realidade dos hospícios. Na década de 1990, foi criada uma rede de atenção à saúde mental dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), composta por Centros de atenção Psicossocial (CAPS), centros de convivência, ambulatórios de saúde mental, hospitais e residências terapêuticas.


Preconceito na atualidade

• Hodiernamente, diversos transtornos mentais são conhecidos e podem ser tratados com medicamentos e psicoterapia. Entretanto, ainda há muito preconceito e tabu quando o assunto é saúde mental e violações contra doentes mentais. Muitas pessoas pensam que psicoterapia é “coisa de louco” ou que depressão é “frescura”, preguiça, falta de religião ou de vontade. Mas, essas crenças não são verdades. A discriminação contribui para a falta de diagnóstico e tratamento correto para essas doenças e um maior adoecimento das pessoas. A melhor forma de combater o preconceito é se informar, se conscientizar e debater sobre o assunto. Para isso, existem o Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado em 10 de outubro, o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio no Brasil, e o Janeiro Branco, mês de conscientização sobre a importância da saúde mental.


Livros

• Modernidade Líquida - Zygmunt Bauman (1999);

• Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos - Zygmunt Bauman (2000);

• Sociedade do Cansaço - Byung-chul Han (2010);

• O Demônio do Meio-Dia - Andrew Solomon (2001);

• Obras da 2ª Geração do Romantismo, como "Lira dos vinte anos" e "Macário", de Álvares de Azevedo, "As primaveras", de Casimiro de Abreu.


Filmes

• O Lado Bom da Vida (2012);

• Coringa (2019);

• Nise: O Coração da Loucura (2016);

• Cisne Negro (2010);

• Clube da Luta (1999);

• Divertida Mente (2015);

• Holocausto Brasileiro (2016)


Séries

• 13 Reasons Why (2017)

• Atypical (2017)


Músicas

• Eminem e Rihanna: The Monster

"Eu sou amiga do monstro que debaixo da minha cama

Me dou bem com as vozes da minha cabeça

Você esta tentando me salvar

Pare de prender sua respiração

Você acha que sou louca"

 

• Shawn Mendes – In My Blood

"Me ajude

É como se as paredes estivessem desmoronando

Às vezes, sinto vontade de desistir

Mas eu não posso

Não está no meu sangue"

• Julia Michaels e Selena Gomez – Anxiety

"Meus amigos querem me levar ao cinema

Eu mando eles irem embora, estou de mãos dadas com minha depressão

E justo quando acho que superei

A ansiedade começa a atacar pra me ensinar uma lição"


Propostas de intervenção

• Atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde) gratuito e de qualidade;

• É importante que seja oferecido pelo Ministério da Saúde o barateamento ou gratuidade da medicação;

• É imprescindível, também, tentar preservar a saúde dos indivíduos até mesmo antes de algum problema de saúde mental; com isso, uma alternativa é que o Governo ofereça isenção fiscal às empresas que se preocupam com a saúde dos seus funcionários, quando essas oferecem, por exemplo, atendimento psicológico, sessões de terapia, relaxamento e ioga;

• Também é relevante que as escolas trabalhem esse tema, de modo a formar cidadãos que não pratiquem quaisquer tipos de preconceito para com essas pessoas e saibam como oferecer algum tipo de conforto ou de ajuda, caso necessário.

• Além disso, é mister que a família procure sempre prestar atenção no comportamento dos seus filhos e, se preciso, procurar ajuda psicológica e profissional, até mesmo para eles saberem como prosseguir diante de alguma doença mental que seus filhos venham a adquirir.

 

Feito pelas nossas monitoras INCRÍVEIS Thaissa Gondim e Vitória Régia Cortez

 


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